No Amazônia
Alzheimer é “subestimado”, dizem cientistas britânicos. Número de pacientes deverá dobrar a cada 20 anos.
Mais de 35 milhões de pessoas sofrem do mal de Alzheimer hoje em dia, e a previsão é de que o número de casos quase dobre a cada 20 anos, de acordo com novo estudo do King’s College of London. O número é 10% maior do que as previsões de alguns anos atrás porque as estimativas não levaram em consideração o crescente impacto da doença sobre países em desenvolvimento.
A expectativa é de que se chegue a 115 milhões de pacientes em todo o mundo até 2050. O estudo é parte do ‘World Alzheimer Report’, divulgado pela Alzheimer’s Disease International.
Segundo o relatório, o aumento da demência está sendo impulsionado pelo aumento da expectativa de vida em países mais pobres. Apesar de a idade ser o principal determinante do mal de Alzheimer, alguns outros fatores que causam doenças cardíacas – como obesidade, colesterol alto e diabetes – parecem aumentar também o risco de demência.
O custo de cuidar dos pacientes de demência não é só uma questão social, mas também econômica, aumentando a carga sobre a população economicamente ativa e os sistemas de saúde, afirma o relatório. Os avanços nos tratamentos de saúde e nutrição vão ter maior impacto sobre países pobres e, como resultado, o número de idosos deve aumentar rapidamente nesses países.
Atualmente, calcula-se que apenas metade dos pacientes de demência viva em países pobres ou de renda média, mas a expectativa é de que esta proporção suba para mais de 60% dos pacientes até 2050. Além disso, o estudo sugere que a proporção de idosos que sofre de demência é mais alta do que se imaginava em algumas partes do mundo, aumentando as estimativas.
Segundo o psiquiatra Martin Prince, um dos autores do estudo, os números são impressionantes. ‘O atual investimento em pesquisa, tratamento e cuidados é, na verdade, bastante desproporcional ao impacto geral da doença sobre os pacientes, seus enfermeiros e terapeutas, nos sistemas de cuidados sociais e de saúde e sobre a sociedade’, diz ele.
Segundo a Alzheimer’s Disease International – uma organização que reúne grupos de vários países -, outros países deveriam seguir o exemplo de Austrália, França, Coréia do Sul e Grã-Bretanha e desenvolver planos de ação para combater o impacto da doença.
O relatório recomenda à Organização Mundial de Saúde (OMS) declarar a demência como uma prioridade no campo da saúde e ainda um aumento no investimento em pesquisas para tentar encontrar a cura, ou novos tratamentos para a doença. Até hoje não há cura para o mal de Alzheimer e os remédios apenas aliviam os sintomas temporariamente. Os cientistas não têm, sequer, certeza do que causa a doença.
‘Aprendi a viver o presente e perder a ansiedade pelo amanhã’
‘Toda doença incurável tem um doente tratável’. É desta forma que a ex-presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz Pará), Joana Scerne, define o tratamento para o portador do mal de Alzheimer. Aos 90 anos de idade, a mãe da engenheira agrônoma Olgarina Oliveira é portadora da doença há 11 anos. Joana conta que a mudança de comportamento foi um dos primeiros sintomas manifestados. ‘A doença começa com um prejuízo na memória recente e as lembranças do passado surgem com detalhes. As medicações atenuam, mas, ao ser diagnosticado, o apoio e a aceitação da família são fundamentais’, diz.
Joana explica que o portador de Alzheimer precisa ser acompanhado por uma equipe de profissionais da saúde multidisciplinar. São eles: geriatra, psicólogo, psiquiatra, neurologista, fonoaudiólogo e terapeuta. ‘É importante nunca confrontar com o portador. A melhora do paciente depende dos médicos e, principalmente, da família, já que o doente vai precisar de atenção especial. Hoje, a minha mãe mora comigo e quando foi diagnosticado o problema pedi minha aposentadoria proporcional para ajudá-la em casa’, afirma.
Aulas de dança, cursos de pintura, hidroginástica e língua espanhola, auto-estima e memorização são as atividades praticadas por Olgarina diariamente. Joana explica que além de cuidar do portador, é necessário dar atenção para a saúde do cuidador. ‘A Abraz entra em cena neste momento. Nós trabalhamos a aceitação da família e como lidar com os sintomas, por meio de reuniões de grupo com profissionais de saúde’, diz. Diante da situação, Joana destaca que aprendeu ‘a viver o presente e perder a ansiedade pelo amanhã. O ensinamento de vida fez com que me tornasse um ser humano melhor, além de retribuir a gratidão com a minha mãe’, afirma.
Idoso não pode ser visto como estorvo
Para a médica geriatra Isabella Grandi, a incidência de casos na sociedade é provocada pelo aumento da longevidade e dos diagnósticos. ‘Casos de demência sempre existiram e vão sempre existir, o que ocorre é que temos uma população predominantemente idosa no país e os casos estão sendo mais diagnosticados’, afirma a médica, que também é parceira da Abraz, que hoje tem 200 associados.
Isabella acredita que o problema já se tornou de saúde pública. ‘A atenção ao idoso é fundamental. Ele não pode e nem deve ser tratado como estorvo para a sociedade. É necessária a implantação de políticas públicas de conscientização e tratamento. Os idosos precisam ser vistos com respeito e com dignidade como cidadãos’, disse.
Superar a negação da família ao tomar conhecimento do diagnóstico e a aceitação ao tratamento são os principais problemas apontados pela geriatra. ‘A negação, em alguns casos, é por desinformação e isso faz com que tempo seja perdido. Tempo é um fator primordial para o paciente, é como se a cada um ano de tratamento não medicamentoso correspondesse a dez anos da doença’, declara. De acordo com a médica, a maioria das pessoas descobre a doença quando já está instalada. O diagnóstico pode ser detectado, segundo ela, através de testes clínicos neuropsicológicos e de imagem.
Serviço – Reuniões da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz Pará) são realizadas toda terça-feira à tarde, na Arquidiocese de Belém (Governador José Malcher). Informações: (91)3225-0429.
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