Do UOL Ciência e Saúde
Em São Paulo
Eles aliviam sintomas e curam doenças, mas são substâncias químicas que podem colocar em risco a saúde. Respeitar as indicações médicas é fundamental para evitar reações adversas que afetam você e todos a sua volta
De médico e de louco todo mundo tem um pouco. Por isso, a maioria das pessoas não hesita em usar o remédio alheio para tratar um problema de saúde. Na teoria, a intenção é combater sintomas ou doenças. Na prática, pode ser um grande risco. Embora todo medicamento seja formulado para trazer benefícios, cada organismo é único e, muitas vezes, reage de maneira inesperada. Somente um profissional habilitado é capaz de avaliar e indicar a melhor forma de tratamento.
Atenta aos perigos da automedicação, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabeleceu novas regras para a venda de remédios, limitando sua exposição nas farmácias. Desde agosto de 2009, até os produtos que dispensam prescrição médica não estão mais ao alcance do consumidor.
A notícia é bem-vinda e atende às orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto ao consumo de remédios, que deve seguir critérios como ser específico, corresponder às necessidades clínicas, ter doses personalizadas, ser utilizado por tempo determinado e pelo menor custo.
Embora a Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma), extinto órgão representante da indústria do setor, afirme que a automedicação não é um problema grave no Brasil, considerando que os 966 casos de intoxicação por remédios registrados em 2007 não resultaram em morte, na opinião do médico Flávio Dantas, professor da disciplina de Clínica Médica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o perigo de uso indiscriminado é provocar malefícios.
INFORME-SE ANTES DE USAR
Dantas explica que remédios são concebidos para solução do problema doença, mas podem se tornar um veneno se utilizados de forma diferente da prescrita. “Isso vale também para medicamentos de venda livre”, afirma o especialista. A primeira consequência é mascarar ou agravar doenças. “A longo prazo, são capazes até de comprometer a saúde da população como um todo”, adverte.
Raquel Rizzi, farmacêutica e presidente do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (CRF-SP) esclarece que esse é o caso dos antibióticos, cujo uso inadequado ou abusivo gera resistência bacteriana, ou seja, a diminuição da sensibilidade dos micro- organismos ao remédio.
SIGA AS INSTRUÇÕES
Ao mesmo tempo em que o paciente tem direito a todas as informações sobre riscos e benefícios, assim como às orientações sobre a necessidade do uso de determinado medicamento, tem também o dever usá-lo com responsabilidade. Flávio Dantas conta que é muito comum a mudança, por conta própria, do tempo da terapia e da dosagem aconselhadas. Entretanto, “como cada indivíduo responde de forma diferente aos estímulos, o aumento da dose pode gerar reações indesejadas ou interagir de modo ainda mais intenso com a ação de outros medicamentos utilizados simultaneamente”, explica o médico. Crianças e idosos, por exemplo, devem ter as doses de seus medicamentos bem ajustadas, pois reagem de modo diferente dos adultos.
Uma recente pesquisa realizada por especialistas da Erasmus University Medical Centre, de Roterdã (Holanda), publicada pelo British Medical Journal, concluiu que as crianças, principalmente até os dois anos de idade, têm sido vítimas do uso excessivo de remédios, às vezes consumidos para fins diversos para os quais foram concebidos. O estudo observou 675 mil crianças italianas, holandesas e inglesas e inspirou o monitoramento de receitas pediátricas pelas autoridades sanitárias. Um dado que faz pensar é que a pesquisa não considerou aqueles vendidos sem prescrição médica, ou seja, o mau uso pode ser ainda maior.
Situações como essas, comenta Raquel Rizzi, podem gerar outros efeitos perigosos, tais como intoxicações, que pioram o estado geral de saúde, podendo levar à morte. A afirmação confirma os dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas (Sinitox), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), obtidos por estudos realizados em 2007, sob a coordenação da pesquisadora Rosany Bochner: 30,56% dos casos registrados de intoxicação foram causados por medicamentos.
Entre as várias circunstâncias identificadas na pesquisa, o uso indevido, o abuso, a automedicação, além de erro na administração dos medicamentos se destacaram. As faixas etárias mais suscetíveis ao problema são crianças de 01-04 anos, adultos de 20-29 anos, seguidos pela faixa que compreende 30-39 anos. Entre os 34 mil casos analisados, as mulheres somavam 21.470.
REAÇÕES ADVERSAS
Com a possibilidade de riscos tão evidentes, os especialistas dizem que não há garantia absoluta de segurança para o uso de medicamentos, incluídos os de venda livre. Maior atenção deveria ser dada àqueles que exigem prescrição médica, pois geralmente são utilizados e reutilizados sem medo algum.
Remédios podem ter várias interações entre si ou com alimentos, que muitas vezes são desconhecidas até pelos fabricantes
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“Remédios podem ter várias interações entre si ou com alimentos, que muitas vezes ainda são desconhecidas até pelos fabricantes. Reações alérgicas não devem ser descartadas, pois podem aparecer mesmo após o uso anterior do medicamento”, adverte Flávio Dantas. Essa é a razão por que o médico precisa obter do paciente todas as informações possíveis para ter condições de identificar esse tipo de situação.
A farmacêutica Raquel Rizzi lembra que a presença obrigatória deste profissional nas farmácias e drogarias durante todo o tempo de seu funcionamento é um direito da população. Conforme a especialista, o farmacêutico possui habilitação até para notificar as autoridades sanitárias sobre eventual reação, desvio de qualidade ou erro de medicação.
FARMÁCIAS CASEIRAS
Para fazer uso seguro dos medicamentos, diz Dantas, “é preciso conhecer o próprio organismo e somente utilizar medicamentos já receitados por um médico. Como as interações são múltiplas, aquelas que são conhecidas obrigatoriamente devem estar descritas nas bulas”.
Para quem mantém uma farmácia caseira, a sugestão é que um médico oriente cada paciente para que ele saiba quais são os medicamentos que deve ter à mão em uma emergência. “Pessoas alérgicas devem ter medicamentos específicos para crises agudas”, exemplifica Dantas.
Para Raquel Rizzi, porém, as farmácias caseiras facilitam a automedicação. Ela aponta como outro fator negativo a forma de armazenamento dos remédios. E ensina: “todos os medicamentos devem estar protegidos da luz, da umidade, do calor e ficar longe do alcance das crianças. O banheiro, a cozinha e o carro não são locais adequados para guardá-los”. Fique atento ao prazo de validade: remédios vencidos podem não ter o efeito desejado ou causar prejuízo à saúde.
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